FUTUROS AMORES

Um blog sobre amor, arte e acaso.

17 de mar. de 2017

Davi, a morte é como Golias...

Postado por Priscila |

Ontem vivi uma história digna das mais belas parábolas. Gostaria de dividir com vocês o meu encontro com o pequeno grande Davi que, literalmente, caiu no meu colo.
Estava voltando para casa. Transporte público cheio. Numa das estações, um menino pequenino correu entre a multidão espremida no corredor da condução e parou em frente à cadeira em que eu havia acabado de sentar depois de muito sufoco.
Perguntei:
-- Você quer sentar no meu colo?
-- Quero, tia.
-- Como é o seu nome?
-- Davi. E o seu?
-- Priscila.
-- Da onde você tá vindo?
-- Do trabalho.
-- E vai pra onde?
-- Pra casa.
A mãe da criança veio atrás dele com muita dificuldade. Assim que ela chegou, ele me olhou nos olhos e disse algo muito sério, mas que, na hora, eu não fui capaz de entender. Então, para disfarçar a minha incompreensão, perguntei:
-- Você tem irmãos, Davi?
-- Meu irmão morreu, tia, você não ouviu?
A mãe virou o rosto de lado, com os olhos cheios d'água, sem conseguir olhar pra nós dois. Então entendi o olhar sério que ele tinha me lançado anteriormente.
-- Desculpa, Davi. A tia não tinha entendido direito.
Eu poderia ter mudado de assunto, ficado super constrangida, mas algo maior me tocou. Quando um menino, tão pequeno, senta no colo de uma estranha e o primeiro assunto que ele toca é a morte do irmão, é porque ele precisa (e muito) falar sobre isso... Pela reação da mãe, percebi que era um assunto difícil e, talvez, pouco discutido com ele. Compreensível. A morte é um tabu, um tema que ninguém gosta ou quer falar. Mas naquele instante, preferi fazer diferente. E começamos a conversar sobre a morte. Não sou psicóloga, mas como educadora sentia-me no dever de auxiliá-lo. Perguntei:
-- E como você se sente depois que seu irmão morreu?
-- Às vezes fico triste, às vezes não.
-- Você tem saudades dele?
-- Às vezes.
-- E o que você faz quando tem saudades?
-- Eu oro.
-- Muito bem, Davi. Toda vez que sentir saudades do seu irmão, ore por ele. Ele vai receber sua oração como uma mensagem, onde quer que ele se encontre.
-- Ele está morando no céu.
-- Sim, e dentro do seu coração também.
-- Mãe, ele mora no meu coração? E no seu também?
A mãe só acenou que "sim" com a cabeça e ele olhou pra mim muito desconfiado. Tinha esquecido como criança entende tudo ao pé da letra e tentei explicar melhor.
-- Sim, Davi, mas não como você imagina. Todo o amor e carinho que você guarda por ele dentro do seu coração faz com que você esteja ligado a ele pra sempre...
O pequeno Davi fez uma pausa como quem guarda uma informação e depois continuou.
-- O meu irmão morreu porque não conseguia comer direito... Ele ficou fraquinho, fechou os olhos e morreu. Por isso eu como direitinho. Não pode comer muito doce!
-- Que bom que você come direitinho. Isso ajuda na sua saúde.
-- É... Tia, um dia eu vou voltar no INCA pra ganhar um relógio do Batman. Melhor: dois. Um pra mim e outro para o Lucas, meu amigo. Eles dão relógio de brinquedo para as crianças lá.
-- Você gosta do Batman?
-- Sim.
-- Um dia você pode ter um relógio do Batman sem precisar ir ao INCA pra isso. Se Deus quiser.
As falas de Davi começaram a chamar a atenção de outros passageiros.
-- Nossa! Como esse bebê fala certinho! Disse uma jovem atrás de nós.
Davi olhou pra trás ofendido e resmungou com a mãe:
-- Mãe, diz pra ela que eu não sou um bebê. Eu já tenho 5 anos!
A indignação era a expressão máxima de quem desejava ser levado a sério. Um " bebê" não tem questões tão urgentes sobre a morte de um irmão...
Eu estava perto da minha estação e antes de me despedir, disse:
-- Davi, você não sabe disso ainda, mas você é uma pessoa muito especial.
Não sabia o que mais poderia fazer por ele. Nem sei se agi corretamente o tempo todo, mas foi com muito amor e sinceridade que emprestei meus ouvidos e colo para o pequeno Davi enfrentar um "gigante": a dificuldade de compreender a morte.


P.S.: É urgente a necessidade de uma "educação para a morte" tanto para os pequeninos, quanto para nós, adultos. A morte é algo doloroso, mas precisamos aprender a compreender nossas emoções diante dela.

3 de abr. de 2016

Resmungos em tons de cinza

Postado por Priscila |

Você percebe que tem algo de muito errado quando nem a coisa que você mais amava parece fazer sentido...

Você percebe que há algo de errado quando o mundo parece muito feio... E não há coisas bonitas a se ver, nem a sentir, nem a se dizer...

Você percebe que há algo de muito, mas muito estranho, quando dormir é difícil, levantar é difícil, respirar é difícil...

Você percebe que há algo fora do lugar, quando não tem mais vontade de conversar...

Você percebe que tá tudo muito ruim quando ficar sozinho é menos doloroso...

Voltei aqui só para ver se me achava... Porque nem o meu "eu" tem andado comigo...



4 de nov. de 2015

Surdez

Postado por Priscila |

Um mundo inteiro de sons e eu não escuto nada... Silêncio! Um coletivo de pausas onde tudo caminha, mas nada tem direção...

Direta, esquerda, seguir ou parar...
 "Agora tanto faz... Estamos indo de volta pra casa"...



12 de out. de 2015

Cacto

Postado por Priscila |

Sem inspiração busco encontrar-me nas palavras. A vida mudou o ritmo e agora não consigo dançar sem tropeçar nos meus próprios pés...
Já fui mais ágil e cheia de frescor. Hoje sinto-me como um cacto que sobrevive ao deserto e, apenas vez por outra, floresce.
Adaptar-se leva um tempo estranho que eu não pensava que existia.
Não sei para onde eu sigo. Não sei porque tanta angústia...
Pensar cansa demais...